Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Lançamento - Livros e Subversão

Livros e Subversão no Brasil Contemporâneo

A força dos livros enquanto veículo de difusão de ideias é reconhecida e temida pelos regimes autoritários; é deste temor que nascem as atividades censórias contra livros.


Para os leitores que viveram intensamente nos meios políticos e culturais dos anos de 1970 e 1980, Livros e Subversão (Ateliê Editorial), volume organizado por Sandra Reimão, deverá certamente despertar grande interesse. 
São seis estudos que pautam movimentos vários que atingiram o mercado editorial brasileiro da época, desde as atividades de jornalistas de esquerda nas redações, passando pelos livros eróticos, até a ação local, realizada por verdadeiros Quixotes que acreditavam no potencial transformador das leituras. E para quem duvida que o livro era prova de subversão, particularmente sob o olhar atento e desconfiado da polícia, os documentos levantados por Ana Caroline Castro não deixam dúvidas sobre o medo dos livros. 
Também o artigo de Felipe Quirino se vale dos autos da polícia. “Zueno, Zoany, Zwenir”... uma referência às diferentes grafias de seu nome nos autos da polícia política, o autor revela aspectos curiosos do jornalista e escritor brasileiro. Zuenir figura em diversos documentos, hoje abertos para a consulta pública no Arquivo do Estado do Rio de Janeiro, como agente infiltrado do Partido Comunista na imprensa carioca. Em uma lista vemos seu nome figurar ao lado de Janio de Freitas, Darwin Brandão, Felix Athaide entre outras figuras que circularam e ainda circulam nas folhas nacionais.
Merece atenção especial o estudo de Flamarion Maués, “Do erótico ao político: a trajetória da Global Editora na década de 70”. A Global editou nos anos 70 títulos de Adelaide Carraro, Cassandra Rios e Plinio Marcos. O capítulo apresenta o perfil curioso dos fudadores da Global, Alves Júnior e Raimundo Nonato Rios. Eles atuaram antes no setor de distribuição e foram responsáveis pela abertura da Farmalivros. Isso mesmo, repetindo a proeza de Monteiro Lobato nos anos de 1920, eles também imaginaram uma grande rede de distribuição que atingisse os potenciais leitores em qualquer estabelecimento comercial. Quer dizer... em qualquer local, pois os livros eram até mesmo vendidos nos táxis! 
Uma homenagem justa aos Quixotes de livros de esquerda, sob a divisa "Quem muda o mundo são as pessoas", traz a tona duas microrealidades que dizem muito daquele Brasil amordaçado pela censura: direto de Niterói, Aníbal Bragança tem, enfim, sua história registrada do projeto heróico da edição de Lênin; por sua vez, em São Paulo, a Banca do Crusp, um foco de insurreição e resistência universitária da maior importância nos anos de 1960 e 1970, ganha um justo capítulo neste livro. 
É ler, para crer!

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