Para uma breve visita à exposição, entre no link https://vimeo.com/12383005 |
(Parte 1)
Buscar um
livro na biblioteca nunca constituiu uma atividade simples.
É preciso ter o
nome do autor, senão, uma fração significativa do título e, claro, deve-se sempre contar com o auxílio de um excelente
banco de dados.
As informações são inseridas numa ferramenta de busca que as
processa e, ao final de alguns segundos – ou minutos ! – uma lista aparece. Com
sorte, autor e título estão ali, bem dispostos, à nossa frente. Noutras vezes,
é preciso ter um pouco de paciência, focar bem o objetivo, rolar a barra, ver
desfilar títulos e autores semelhantes, os quais se compõem com listas menos
óbvias, até que o objetivo seja atingido.
Porém, a tarefa não termina aí.
Somos
primeiramente apresentados a uma série alfanumérica, até o momento em que...
puff, é só seguir as indicações das salas de consulta e o livro será logo
alcançado.
Às vezes o achado demora um pouco mais do que o esperado, afinal, quem poderá garantir, na
ordem dispersa dos números, qual será o antecessor de um extenso c981.56748Ma?
Na
intrincada composição das estantes, há sempre um cruzamento, um corredor que
quebra a ordem dos números, um ponto de charneira que nos torna mais uma vez
oscilantes: devemos seguir em frente, retornar ao começo da fileira, ou partir
para a prateleira de baixo? À vezes, o destino nos prega uma peça e na direção
menos provável se esconde o exemplar desejado: nem retroceder, nem avançar... É
necessário virar do outro lado da estante. Como não se render à ordem dos
números?
A
Classificação Decimal de Dewey (CDC), sistema inventado pelo norte-americano
Melvil Dewey, em 1876, sofreu muitas resistências desde que surgiu. Afinal,
como reduzir uma série multissecular e tão complexa de dados inscritos numa
página de rosto, ou em outras páginas dos livros, a uma única equação?
No início, a
pergunta soava ainda mais estranha, pois não se tratava apenas de equacionar
nomes de autores e títulos, mas de sintetizar todo um sistema de conhecimento
outrora organizado em extensos fichários temáticos em séries
numéricas racionalmente arranjadas nas fileiras das estantes. Nas bibliotecas
de livre acesso o leitor ainda guardava a esperança de reter diante dos olhos
uma fileira de livros mais ou menos coerente com o assunto buscado. Porém, nas coleções
de acesso indireto, a ordem dos números fatalmente prevalecia sobre a ordem da
leitura. E um livro ignorado correspondia fatalmente a uma referência perdida.
A
relutância na adoção esbarrava ainda com uma longa tradição de listas, catálogos
bibliográficos, sistemas de classificação e fichamento que viajaram no tempo e
no espaço, acompanhando as diferentes idades do livro e seus desenvolvimentos.
Entre classificar para preservar e classificar para dar a conhecer, quantos
esforços, métodos e sistemas não teriam sido inventados?
Esta é a
questão que percorre o belo catálogo De L’Argile
au Nuage. Une archéologie des catalogues (IIe millénaire av.
J.C. – XXI siècle), obra e exposição dirigidas por Frédéric Barbier, Thierry
Dubois e Yann Sordet. Publicaremos nos próximos dias alguns exemplares de fichas
e catálogos analisados pelos autores. A conferir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário