Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Novidade Editorial

Ursula Rautenberg, Reclams Sach-lexikon des Busches.
Stuttgart: Reclam, 2015, 476 p.

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Os dicionários são instrumentos tão necessários aos escritores quanto os tijolos o são para os pedreiros e o couro para os sapateiros, teria escrito Graciliano Ramos. A ideia, a propósito, foi tomada ao Dicionário Universal de Citações, de Paulo Rónai, esta ferramenta preciosa para escritores de todas as idades e de diferentes recursos linguísticos. 
Dicionários analógicos, de antônimos, de sinônimos, além, é claro, dos dicionários lexicais - preferencialmente em edições e autores diversos - não podem faltar a uma biblioteca que se prese. 
Além desses instrumentos que nos auxiliam no manejo da língua, há os dicionários especializados. Nesse tópico, os dicionários do livro devem ocupar um lugar de prestígio entre os bibliófilos e bibliômanos. Afinal, não há amante do livro que não se perca nas páginas de um bom dicionário do gênero.
A reedição aumentada e atualizada do Reclams Sach-lexikon des Busches, de Ursula Rautenberg, diretora do Centro de Estudos do Livro da Universidade de Erlangen-Nuremberg, convida a uma viagem para lá de emocionante no universo bibliológico da Alemanha. Ao percorrer suas páginas adentramos em um corpus lexicográfico pouco explorado nos países latinos, mas que se mostra mundializado, senão, latinizado, desde suas origens. 
A imprensa tem seu berço em Mainz, antiga Mogúncia, nas bordas do Reno. Portanto, na porção ocidental e latina das cidades germânicas. Ela guarda, é certo, as marcas profundas de suas raízes, as quais se transferem nas palavras que nomeiam as coisas do livro. Por exemplo, o ato de imprimir denomina-se drucken a partir do qual se compõem suas variantes. Também a passagem operada na cultura anglo-saxã do Liber ao Book se fez na Alemanha, prevalecendo a palavra Buch para designar o livro. Nesse ponto, uma hipótese de difícil comprovação, mas nem de todo inútil, merece ser anotada: o objeto é nomeado segundo a raiz linguística local - e não a matriz latina - sugerindo uma posse muito mais próxima, ou até mesmo rotineira, daquele que o detém e o nomeia. Fiquemos apenas nestes dois exemplos, dentre os 2.000 verbetes que conformam o dicionário.
Ao folhear as páginas, as transferências linguísticas vão logo se colocando à prova do tempo. 
É que o livro impresso viajou da Renânia para a outra Europa, aquela das cidades vibrantes do Mediterrâneo, particularmente Veneza, o grande centro impressor já no primeiro meio século de sua existência (1450-1500). Nesse mundo latinizado, no qual a anatomia dos códices manuscritos já era suficientemente conhecida para se deixar substituir por novos termos que confrontassem duas técnicas de escrita, a saber, a manuscrita e a tipográfica, vingou a nomenclatura fundada na tradição. O primeiro léxico tipográfico, nascido entre os germânicos, adotou, então, a nomenclatura vigente, "europeia", "internacional", ou seja, latina. 
Transferências outras se deram no curso dos séculos, conforme o estabelecimento dos Estados Modernos e de suas línguas vernáculas, que não demoraram a se tornar línguas oficiais. Assim as novas tecnologias foram batizadas segundo suas origens nacionais, adquirindo, desde então, nomenclaturas locais. Isso até que uma vez mais o campo se embaralhou e a disputa lexical se tornou também uma disputa pela hegemonia na economia do livro. Como estamos a tratar de um componente que incorpora o espírito à matéria, vale notar que desde o século XVIII se criou uma relação complicada entre a língua filosófica hegemônica, ou seja, o francês, e aquela expressa na primeira nação industrial e imperialista, o inglês. Donde as intersecções linguísticas observadas na época contemporânea.
Cumpre ressaltar, ainda, que um dicionário do livro tem sempre um caráter ambivalente. É técnico ao extremo, quando descreve e exemplifica processos relacionados à sua indústria - desde as manufaturas às maquinofaturas. Porém, ele não deixa de apresentar elementos sócio-culturais de notável importância, os quais vão desde a apreensão do leitor e das instituições de leitura, até a forma como se dão nomes às coisas.
Sachs-lexikon se apresenta, portanto, como uma ferramenta muito útil e rica, mesmo para aqueles que não dominam o idioma teutônico.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Fundação Biblioteca Nacional Lança Revista do Livro

"Este número da Revista do Livro marca a retomada desta publicação, que, lançada em 1956, tornou-se referência entre as publicações culturais brasileiras. Nos 14 anos em que circulou desde sua  criação, vinculada ao antigo Instituto Nacional do Livro, assim como nos oito que se seguiram ao relançamento em 2002, a revista reuniu um time de intelectuais de ponta, que refletiram em suas páginas sobre a memória e a atualidade cultural brasileiras.
É com espírito de celebração, assim, que promovemos e celebramos a sua volta depois de uma interrupção de quatro anos. A estreia desta terceira “dentição” – tomando de empréstimo a expressão modernista – coincide com uma data fundamental na história da Biblioteca Nacional, a do bicentenário de sua abertura ao público. É que, embora a data oficial de fundação da Biblioteca Nacional seja 29 de outubro de 1810, foi somente em 1814, após a organização do acervo, que a casa foi franqueada aos leitores". Editorial
SUMÁRIO

ENTREVISTA / Ferreira Gullar
As bibliotecas do poeta
Por Maria Amélia Mello e Sheila Kaplan

DESAFIOS DA BIBLIOTECA HOJE
O passado a serviço do futuro – Renato Lessa
Memória central do conhecimento – Maria Inês Cordeiro
Funções mais amplas e complexas – Lena Vania Ribeiro Pinheiro
Conselho de bibliotecas – Ngian Lek Choh

UM SONHO QUASE IMPOSSÍVEL - Rodrigo Mindlin Loeb

ENSAIO VISUAL / Cristiano Mascaro
Minha dívida com os livros

MEMÓRIA DIGITAL BRASILEIRA
Angela Monteiro Bettencourt, Neusa Cardim da Silva, Vinicius Pontes Martins

SANTA NÃO SOU - Edna Lucia Cunha Lima

DEPOIMENTO / Antônio Carlos Secchin - Esse claro objeto do desejo

NEM ESCRAVA, NEM ISAURA – A MUSA PORNOGRÁFICA DA POESIA DO ROMANTISMO
Irineu E. Jones Corrêa

ALEXANDRE EULÁLIO: UM POLÍGRAFO DOS TRÓPICOS
Flora De Paoli Faria

REPRODUÇÃO DE CARTAS A EDUARDO PRADO
Alexandre Eulálio

EXTRAORDINÁRIO PALÁCIO
Álbum de construção da Biblioteca Nacional

PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE
Luiz Antonio de Almeida

LUPICÍNIO RODRIGUES, DOUTOR EM DOR DE AMOR
Elizete Higino

IMAGENS, NARRATIVAS E SENSAÇÕES PARTILHADAS
Pedro Vinícius Asterito Lapera

LITERATURA REVOLUCIONÁRIA NO BRASIL
Marisa Midori Deaecto

O LIMIAR DA FICÇÃO
Andé Luiz Barros da Silva

PEQUENO GLOSSÁRIO DO LIVRO
Eliane Perez, Rosângela Rocha Von Helde, Andréa de Souza Pinheiro, Silvia Fernandes Pereira

TRÊS NOTAS SOBRE O LIVRO DE ARTISTA
Sérgio Bruno Martins

O LIVRO FOTOGRÁFICO NO BRASIL – ALGUNS COMENTÁRIOS
Joaquim Marçal Ferreira de Andrade

CÓDICE 2437: BIOGRAFIA DE UM MANUSCRITO
Maria Olívia de Quadros Saraiva

ÁRVORELIVRO
Bruno Liberati