Livros sob os escombros de Sarajevo
1992 - A Biblioteca de Sarajevo sob os escombros.https://calledelorco.com/2015/06/28/el-hombre-que-salvo-la-haggadah-de-sarajevo-alberto-manguel/ |
Em Lamento por Vijecnica, do
poeta bósnio Goran Simic (1993), podemos sentir a dor de uma vida despedaçada entre livros:
A Biblioteca Nacional queimou nos últimos três dias de agosto e a cidade se afogou com a neve negra.
Liberados os montes, os caracteres vagaram pelas ruas, misturando-se aos transeuntes e às almas dos soldados mortos.Vi Werther sentado na cerca arruinada do cemitério; vi Quasímodo se equilibrando com uma das mãos no minarete.Raskolnikov e Mersault cochicharam juntos durante dias em meu sótão; Gavroche se eximiu com uma camuflagem cansada.Yossarian já se vendia ao inimigo; por uns poucos dinares o jovem Sawyer mergulhava longe da ponte do Príncipe.Cada dia mais fantasmas e menos pessoas vivas; e a terrível suspeita se confirmou quando os esqueletos caíram sobre mim.Encerrei-me na casa. Folheei os guias de turismo. E não saí até que o rádio me dissesse como eles puderam apanhar dez toneladas de carvão no subterrâneo mais profundo da queimada Biblioteca Nacional.
A Biblioteca de
Vijecnica, ou simplesmente, a Biblioteca Nacional da Bósnia e Herzegóvina, em
Sarajevo, sofreu o primeiro de muitos ataques na noite de 25 de agosto de 1992,
por ordem do general sérvio Ratko Mladic. Sucumbiram ao fogo inimigo 1,5 milhão de
volumes, 155 mil obras raras, 478 manuscritos, milhões de periódicos nacionais
e estrangeiros. O fim trágico desse belo edifício fundado em 1886 não foi o
único a compor esse capítulo a que Fernando Báez chama de livrocídio.
Jamais na história da destruição dos livros, observa o autor, bibliotecas
inteiras, senão, todo o patrimônio cultural de um povo foi destruído com a
finalidade de se eliminar não apenas um povo, mas a sua história, a sua
memória, os seus traços.
Ocorre que as
bibliotecas são instituições universais por natureza. É esta sua vocação, desde
os tempos de Alexandria, senão antes. Resguardar todo o conhecimento,
toda a memória da humanidade. Quando se destrói por
completo uma biblioteca, não se comete apenas o livrocídio, a limpeza étnica,
tal como fora praticada em Sarajevo. Boa parte da memória do mundo estava ali,
inscrita nos escombros. Como diz o poeta Simic, morreram Werther, Quasímodo,
Gavroche, Saywer...
E como os livros
constituem mercadorias dotadas de um poder simbólico invulgar, parece evidente
que a população de modo geral se compadeceu diante do trágico destino dos
livros e da biblioteca. A comunidade internacional colaborou igualmente para a
reconstrução do edifício e da biblioteca, de tal maneira que a Biblioteca
Vijecnica, ou Biblioteca Nacional Universitária da Bósnia Herzegóvina, foi
reinaugurada em 2014.
Sem dúvida um
exemplo radical de biblioclastia que pôs à prova o poder do livro, e que não
deve jamais ser esquecido e tão pouco repetido.
DIGA NÃO À BIBLIOCLASTIA
molesto su atencion. por los conocimientos que evidencia, quisiera saber si existen otras paginas web que traten el tema.
ResponderExcluirtengo 84 años argentino y para mi los libros tienen vida propia, solo como su imagen de papel. z.f.34z.f@gmail.com MUCHAS GRACIAS
Os livros presentes em tempos de COVID-19, nosso melhores companheiros.
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