DESIGNER PREMIADO NO BRASIL E NO EXTERIOR REINVENTA ARTE MULTISSECULAR
O que são as capitulares?
Segundo o Dicionário do Livro, de Maria Isabel Faria e Maria da Graça Pericão (Edusp, 2008):
capitular [consiste] em uma compilação das atas legislativas emanadas dos reis merovíngios e carolíngios franceses. O nome provém da sequência dos capitula ou pequenos capítulos de que eram compostas [...]E, como desdobramento dessa função primordial das leis régias que se fundam em uma tradição cristã, reabilitada no humanismo carolíngio, também as letras que iniciam um capítulo, ou um título, ou ainda um nome próprio, ou lugar, foram batizadas de capitulares.
Bem sabemos que a escrita pertence ao século, ainda que seu conteúdo seja de natureza sagrada. Nasce desta simbiose entre a esfera celeste e a terrena uma tradição multissecular de iniciar textos nobres (religiosos, depois, profanos) com belas capitulares desenhadas com apuro artístico e preenchidas com cores raras, provenientes de gemas preciosas, tal como o azul tirado do lápis-lazúli, o verde da esmeralda, sem contar as folhas de ouro, motivo de ostentação de tantos manuscritos sacros.
Gustavo Piqueira segue esta tradição das belas capitulares desenhadas com graça e estilo. Refunda com o recurso da patrística o significado profundo de transformar o livro em objeto sagrado, em obra celestial. Porém, como nem tudo o que reluz é ouro e o mundo gira... as inferências seculares no meio religioso se tornaram matéria de ruptura, senão, de resposta (esculachada?) a um mundo sem fé e sem poesia. Tudo o que aí está se transforma em mercadoria.
Donde nasce a riqueza do livro Mateus, Marcos, Lucas e João ?
Da capacidade do artista de criar a beleza através de signos prosaicos (profanos) tendo como suporte um elemento nobre da tradição artística dos códices manuscritos, ou seja, as capitulares.Do escritor subversivo e consciente da velha máxima já bastante desgastada, mas que nunca se torna demasiado lembrar, de que "tudo o que é sólido desmancha no ar".
Da precisão do designer ao tirar nobreza de objetos totalmente prosaicos. Como alquimista, ele sabe que tudo é fake, desde de que não se permita olhar além do que os olhos possam alcançar.
Enfim, temos aqui um livro raro (ou dois?), original (ou plágio?), como há muito não se via no mercado das artes do livro.
E uma exposição para lá de sofisticada a realçar ainda mais a importância desta cidade do livro imersa em nossa já tradicional cidade universitária.
INAUGURAÇÃO e LANÇAMENTO DO LIVRO
29 DE OUTUBRO, QUARTA-FEIRA
LIVRARIA JOÃO ALEXANDRE BARBOSA - SALA BNDS
NO PRÉDIO DA BIBLIOTECA BRASILIANA GUITA E JOSÉ MINDLIN
CIDADE UNIVERSITÁRIA
* Os cem primeiros compradores do livro ganham um pôster de uma capitular impressa em serigrafia.
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