LANÇAMENTO
"Não faço nada sem alegria", esta divisa de Montaigne viajou por séculos, atravessou o Atlântico e ancorou em um belo ex-libris de uma biblioteca não menos bela e cheia de personalidade, cujos livros repousam hoje na Universidade de São Paulo. Antes, porém, eles aguardavam ser descobertos por um leitor atencioso que fez do colecionismo a alegria de viver. Assim a imagem de José Mindlin rodeado por livros foi se cristalizando, até se confundir com o próprio livro.
O belo volume organizado por Plinio Martins Filho e J. Guinsburg vem celebrar a memória deste grande amigo do livro, que neste ano completaria um século de existência. A Loucura Mansa de José Mindlin reúne relatos dos mais variados que vão alinhavando, linha a linha, capítulo a capítulo, uma biografia marcada pela cordialidade, coerência intelectual e pela doação incondicional aos livros.
Como relata Antonio Candido,
Não espanta me haver dito certa vez que, embora fosse difícil avaliar, calculava ter lido entre sete e oito mil volumes. A leitura incessante foi na sua vida inseparável do amor pelo livro, que ele qualificou de maneira pitoresca como 'loucura mansa' (p.34).Sem dúvida, a biblioteca de Mindlin - não apenas a Brasiliana, constituída em parceria com Rubens Borba de Moraes, mas os outros tantos livros que não compunham esta seção - se formou na mansuetude da vida. Da vida do leitor que não teve pressa, que soube folhear no seu tempo os livros que possuiu.
Mas que soube agradar e ser, portanto, um parceiro muito agradável nas tertúlias bibliográficas que empreendeu em sua bela sala de estar rodeada por um jardim silencioso e agradável na casa da rua Princesa Isabel. Aliás, a comunhão da casa com a biblioteca e do leitor com o jardim se tornara tão forte, que surge aquele gostinho amargo de nostalgia quando se pensa que a Brasiliana bem poderia ter descansado ali, naquele templo acolhedor, sob os auspícios da Universidade. Afinal, uma casa de livros não constitui patrimônio a ser desmembrado sem a dor inevitável de uma grande perda.
De sua personalidade acolhedora, narrativas várias de Marisa Lajolo, Ana Luisa Martins, Cristina Antunes, Eliza Nazarian ... essas mulheres seduzidas pela boa prosa e pela bela biblioteca dos anfitriões - "dona Guita também merece um livro"- vão nos dando notícias.
Delícia folhear as páginas e construir esses muitos Mindlins-livros que se desenham nas entrelinhas... Delícia passear pelas fotografias cuidadosamente reunidas por Cristina Antunes e Nádia Gotlieb.
O livro inteiro é uma delícia e diz muito desta loucura mansa de passear pelos livros... pelos homens-livros... por um genuíno amante do livro.
Imperdível!
LANÇAMENTO:
LIVRARIA JOÃO ALEXANDRE BARBOSA
Prédio da Brasiliana,
no campus Butantan da Universidade de São Paulo
Dia: QUINTA-FEIRA, 04/12/2014
Horário: 18 HORAS
A Loucura Mansa dos Encadernadores
Encadernação de Isabel Sewaybricker, da ABER Fotografia de Cinzia Damiani de Araújo |
Nunca antes na história da Universidade de São Paulo volumes rigorosamente encadernados, compondo leituras múltiplas de um só livro, se viu reunida em uma livraria, numa única noite de lançamento.
A loucura mansa do leitor e colecionador Mindlin se estende para o grande evento que acompanha um acontecimento por si só marcante.
Explico: serão expostos e vendidos duzentos volumes especiais de A Loucura Mansa de José Mindlin.
Parte da contribuição traz a marca e a elegância das encadernações realizadas por Luís Fernando Machado. O uso de papéis marmorizados, dourações clássicas, cores densas e rigor no acabamento são suas características mais notáveis. A leitura que o encadernador imprime à obra organizada por Plinio Martins Filho e J. Guinsburg faz jus ao homenageado. Encadernações clássicas que nos remetem diretamente à sala de estar onde Mindlin se deixa fotografar.
A ABER, por seu turno, contribuiu com encadernações variadas que nos remetem a tempos, técnicas e gostos os mais diversos. A exemplo desta, que se exibe na fotografia ao lado. Artistas de peso concorrem para o enobrecimento deste livro nobre.
Vale lembrar que a ABER foi fundada por dona Guita Mindlin e reúne hoje os maiores profissionais do país. Fato da maior importância, pois reforça o valor simbólico da exposição preparada para a noite do lançamento.
Vale lembrar que a ABER foi fundada por dona Guita Mindlin e reúne hoje os maiores profissionais do país. Fato da maior importância, pois reforça o valor simbólico da exposição preparada para a noite do lançamento.
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