FRACISCO ALVES, O REI DO LIVRO
Daí em diante, a estrela de Francisco Alves, desse português de bom coração e de gênio forte, como relatam seus memorialistas, não parou de brilhar. A partir 1897 ele já respondia por todo o ativo e passivo da empresa. Em 1894 ele inaugurou na rua da Quitanda, em São Paulo, uma filial de sua livraria. Foi um grande evento que contou com a presença de figuras de proa da política e da literatura nacional, além de muito champanhe e a cobertura inflamada da imprensa. Não era, na verdade, apenas uma livraria. Tratava-se, no fundo, de uma grande promessa, pois Francisco Alves vinha se associar ao projeto republicano de expansão das escolas e das bibliotecas em todo o Estado. A filial de Belo Horizonte, da novíssima capital de Minas Gerais, foi inaugurada em 1907. Estava lançada, nessa época, a primeira rede livreira do Brasil. A partir de 1910, fato inédito na história de livreiros e editores brasileiros do seu tempo, a empresa se expandiu para o mercado europeu, adquirindo participações em Portugal e na França.
Surge, portanto, em boa hora a edição dirigida por Aníbal Bragança, Francisco Alves, o Rei do Livro (Edusp). O livro sai justamente na semana do natalício de nosso homenageado, que nasceu em 2 de agosto de 1848, e apresenta um caleidoscópio de informações, reflexões e análises dessa grande figura. A lembrança ao rei do livro já seria bem justa se apenas rememorasse seus feitos, ou os livros que escreveu e editou. Mas a edição traz muito mais do que homenagens, sob a forma, por exemplo, do belo caderno de fotografias que ilustra sua história. A reunião dos estudos de pesquisadores brasileiros diz muito sobre a abrangência das edições da Francisco Alves no território nacional, na sua primeira fase republicana. O que não é pouco, considerando que se trata de um período de forte descentralização das questões do ensino e, por outro lado, da concentração de recursos no eixo Rio-Minas-São Paulo. Este volume levanta, além disso, algumas reflexões sobre os silêncios em torno desse livreiro-editor português, naturalizado brasileiro, que enfrentou as propagandas antilusitanas no último quartel do século XIX e que, ao falecer, em 1917, doou praticamente toda a sua notável e surpreendente fortuna para a Academia Brasileira de Letras.
A notícia, certamente, sensibilizou os brasileiros mais bem-nascidos. Monteiro Lobato, ele mesmo se mirou no exemplo de Francisco Alves, ao assumir que para ficar rico, era necessário editar livros escolares. Estava certo o autor do sítio! Porém, após mais de três décadas de justas homenagens ao “furacão da Botocúndia”, já era o tempo de se abrirem as cortinas ao rei do livro Francisco Alves.
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