Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sobre Livros - Jesuítas no Brasil

Uma biblioteca desaparecida...

"A Sabedoria aqui edificou sua morada", pintura do final do século XVII, Salvador-BA
Fonte: Catedral Basílica de Salvador da Bahia 1657. 2a. edição. Salvador: IPAC, 20012, p. 193.
Fotografia de Heraldo Alvim
As principais notícias de que dispomos das livrarias dos jesuítas no Brasil foram compiladas por seu principal historiador, Serafim Leite. Da vasta documentação coligida em sua monumental História da Companhia de Jesus no Brasil, assomam as correspondências e relatos de missionários acerca dos colégios visitados. Foram muitos. Bem valia uma cartografia dos mesmos na América Portuguesa.
Uma outra cartografia nos faria bem compreender a circulação de ideias promovida pelos soldados de Santo Inácio. Noutras partes do continente um Colégio acompanhava uma biblioteca e, não raro, alguma oficina tipográfica, ainda que seu funcionamento fosse temporário. Contentamos apenas com as bibliotecas, os cadernos manuscritos e, quem sabe - hipótese levantada com notável entusiasmo por Carlos Rizzini - por estas partes, a exemplo do modelo hispânico, a escrita também tenha circulado a partir da impressão tiradas de xilogravuras. A técnica, diga-se de passagem, era bem conhecida no Velho Mundo.
Mas, e as bibliotecas? Padre Vieira visitou algumas no Pará e no Maranhão, das quais tirou boa impressão. A livraria do Colégio do Rio de Janeiro, que à época da expulsão dos jesuítas contabiliza 5.434 volumes. Dos volumes que sobreviveram às pestes e à humanidade desde 1759 a 1775, quando foram redescobertos, o novo catálogo contabilizara 4.701, dentre os quais 66 títulos eram defesos. Os dados surpreendem por vários aspectos, dentre outros, pela exatidão dos números!
A maior livraria foi, todavia, a do Colégio de Salvador. Também sua importância na vida intelectual da colônia é inestimável. Nele atuaram Padre Vieira e Antonil. 
Conta-se que à época da expulsão dos jesuítas a coleção ostentava algo perto de 15.000 volumes.
Nada restou, ou pouco, espalhado alhures.
E a sala de leitura, que belo exemplar da pintura barroca, teria afirmado Lúcio Costa na época de sua redescoberta. 
Sala de Leitura, atualmente sala do Museu do Colégio dos Jesuítas, Salvador-BA.

Fonte: Catedral Basílica de Salvador da Bahia 1657. 2a. edição. Salvador: IPAC, 2012, p. 123. 
Fotografia: Arquivo IPAC
O presente artigo não foi inspirado nos livros, mas na pintura daquele teto, que hoje se mantém. Assim como a sala de leitura, cujo último registro que encontrei bem lembrou outros relato, passado em tempos distantes, na ainda mais longínqua Alexandria. Em A Bbilioteca Desaparecida Luciano Canfora percorre os traços de uma biblioteca que se perdeu materialmente, ainda que tenha se mantido como um modelo singular na cultura clássico, o qual teria inspirado as grandes coleções do Velho Mundo. A sala ampla, de formato irregular, bem iluminada por janelas generosas - e o teto decorado - falam de uma biblioteca que se perdeu. Ainda que naquele espaço, naquela fotografia, o livro tenha resistido apenas nas mãos da Sabedoria, que ali fixara morada, como diz o dístico. Da biblioteca desaparecida, seu principal testemunho é aquela pintura. 

3 comentários:

  1. Oi Marisa,

    gostaria de saber de onde tiraste essas fotos desse texto sobre os jesuítas.

    Obrigadíssimo de antemão!

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    1. Olá, atualizei a notícia com a ref. completa do livro! Feliz 2015!

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  2. Olá, foi de um álbum sobre Salvador. Preciso encontrar em casa... eu coloco a referência completa na legenda e, inclusive, corrijo alguns erros do último parágrafo! A imagem colorida do teto está em Livros e Bibliotecas do Brasil Colonial, de Rubens Borba de Moraes, na edição de Briquet de Lemos. Obrigada, Marisa

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