Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

sexta-feira, 26 de julho de 2013

DiverCidades - XXIII Feira do Livro Infantil e Juvenil de Buenos Aires

A Descoberta dos Livros e da Leitura

De 8 a 27 de julho a cidade de Buenos Aires abriga um evento muito original. É a Feria del Libro Infantil y Juvenil. Ali todos os stands, toda a programação e, claro, todos os editores se voltam para este pequeno e numeroso público em formação.
À primeira vista o contato com o Parque de Exposições provoca certo estranhamento. Tudo muito colorido, uma rádio para jovens, palcos, carrinhos de cachorro quentes, animais e desenhos infantis por todas as partes... uma sala Monteiro Lobato, outra sala... mas, onde estão a crianças e os livros?
É que tudo começa apenas depois do almoço. Então as crianças chegam, editores e livreiros se posicionam e as coisas acontecem. As grandes editoras estão lá, mas não ofuscam os pequenos empreendedores.
Estas e outras observações convidam a pensar em nossas feiras de livros.
Sabemos que no Brasil o mercado editorial destinado às crianças e jovens, sobretudo daquela literatura consumida nas escolas - ao lado dos manuais escolares - compõe a porção mais capitalizada da cadeia de livros. E esta realidade se reflete bem nos espaços imodestos ocupados pelas "grandes" nas Bienais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Também é verdade que estes lugares estão se tornando cada vez menos convidativos para a visita desinteressada da criança e do jovem. Há pouco espaço entre as estantes de livros - às vezes há poucos livros em exposição! -, a multidão inibe o uso do pouco que resta e o acúmulo de atividades programadas tira da criança aquilo que lhe é muito peculiar, a saber, a espontaneidade! Como se não bastassem todos esses problemas, adultos e crianças convivem mal nas Bienais. Atrapalhamos as crianças, pois não as deixamos suficientemente à vontade para correr e percorrer os livros, enquanto o barulho alegre que elas produzem nem sempre concorrem para a leitura e concentração desejadas pelos adultos na hora de folhear um livro.
Assim a Feira do Livro Infantil e Juvenil de Buenos Aires se apresenta como um espaço privilegiado para o público que a visita. Há barulho, alguma correria, por vezes as músicas excedem no volume, mas, o que importa? O espaço é para eles, não para nós!
Entre um livro e outro, entre uma brincadeira e outra, o adulto, amante dos livros, vai descobrindo um mar de ilustradores e de ilustradoras bem originais. Pequenos livros de jovens editores, empreendedores ciosos de catálogos que buscam o melhor para a formação desses jovens cada vez mais exigentes. Grande formatos, com acabamento impecável saltam às vistas. Entre uma conversa e outra, descobrimos que a Feira resguarda o otimismo e a alegria daqueles que dedicam suas vidas - e mesmo suas últimas economias, o que não é pouco em um país em depressão econômica! - a sonhar com os livros como um agente transformador. Sim, porque a formação se dá a cada dia, no espaço da escola, na família, num só termo, na vida social. Mas a transformação está ali, no ambiente concentrado onde a busca dos livros se converte em atividades múltiplas, em jogos, em músicas e, claro, em leituras compartilhadas.
A Feira de Buenos Aires, ao privilegiar o espaço da criança, nos faz pensar se não seria esta uma solução para a saúde de nossas Bienais. Não se trata apenas de compartimentar os espaços, mas de compreender que a experiência da leitura não é a mesma em todas as idades. Resta saber em que medida o capital - sempre ele! - que comanda estes grandes eventos pode estar sensível a essas necessidades tão humanas que são a leitura e a convivência.




Nenhum comentário:

Postar um comentário