Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

DiverCidades - Uma Nova Biblioteca para a Faculdade de Direito de USP


Os Livros do Largo São Francisco


Notícia recente da construção de um novo edifício para abrigar os livros da Faculdade de Direito da USP nos conduziu a um passado distante, que remete às raízes deste notável patrimônio bibliográfico. Em 1827, quando eram inaugurados os cursos jurídicos no Brasil – em Olinda e em São Paulo – eles já nasciam com edifício próprio e uma biblioteca formada. É nesse ponto que a história do convento de São Francisco e da Faculdade se encontram.
Nos tempos coloniais os franciscanos fizeram de seu convento uma importante instituição de estudos, destinada à formação espiritual dos seus, mas também a problemas cotidianos da cidade, o que muito os aproximou da população planaltina. Houve até mesmo a proposta de um curso de geometria aplicada, voltado para as edificações urbanas, como a construção de pontes e os arruamentos, enfim, uma espécie de ponts et chaussées, como era conhecido o curso de engenharia civil na França setecentista.

A atividade espiritual somada à intelectual resultou na formação de uma notável biblioteca, cuja coleção atingiu perto de seis mil volumes. Ocorre que o convento se esvaziava na medida em que se fortalecia a ideia de um Estado amparado por doutrinas e instituições leigas. Nos debates em torno da inauguração dos cursos de Direito, a capital paulista foi escolhida e, nela, parte do convento franciscano desapropriada para receber novos professores e alunos. E a biblioteca? Esta, dois anos antes, fato já narrado aqui nesta coluna,  convertera-se na primeira Biblioteca Pública da cidade.
Difícil sintetizar a riqueza daquela coleção. Compêndios de Direito? Poucos. Mas uma profusão de literatura, narrativas de viagem, estudos cosmográficos, entre outros gêneros nada canônicos que conviviam nas estantes com uma coleção não menos extraordinária de textos religiosos. O que espanta, mesmo, naquela livraria provinciana, encerrada em um convento, são as francesias. Uma interessante coleção de um panfletário da revolução, intitulada História das revoluções de Paris, por Prudhome (17 vol., in-8o), o Testamento político, de Colbert (1 vol., in-8o), as obras de Mably, um exemplar de As reflexões sobre os Estados Unidos e a França, por Harper (broch., 1 vol., in-8o)... Títulos e autores significativos, que ajustavam a livraria conventual às grandes questões do tempo. Testemunhos vivos de que o Iluminismo atingira de cheio a vida conventual.

Artigo parcialmente publicado na Revista Brasileiros do mês de Setembro/2013.
Para saber mais, ver Marisa Midori Deaecto, O Império dos Livros: instituições e práticas de leituras na São Paulo oitocentista (São Paulo: Edusp, Fapesp, 2011, 448 p.); Ana Luiza Martins e Heloísa Barbuy, Arcadas. Largo de São Francisco. História da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (São Paulo: Melhoramentos; Alternativa, 1999).


Nenhum comentário:

Postar um comentário