Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

domingo, 25 de outubro de 2015

Listar, Classificar, Organizar, Sistematizar... Eis algumas questões que não podem escapar ao historiador

Seminário "Listas, Inventários e Catálogos" abre novas perspectivas para a pesquisa histórica...


A biblioteca Batthyaneum apresenta uma fachada austera, que em nada revela a monumentalidade de seu interior. Antiga igreja católica de arquitetura sóbria e dimensões imodestas, adaptada para comportar um observatório astronômico, uma singular coleção de objetos (mapas, moedas, tábuas escritas, peças de cavalaria etc.) e uma notável biblioteca. A instituição foi instalada no final do século XVIII, no coração de Alba-Iulia/Karlsburg/Gyulafehérvár, esta cidade antiga, capital da Dácia Romana (Apulensis), que remonta ao segundo século de nossa era.

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Ignatius Sallestius de Batthyan (1741-1798) fundou aquele que seria o bastião da cultura ilustrada de Alba Iulia, senão, de toda a Transilvânia. É bem verdade que a região parece bem provida de templos e livros que nos convidam a adentrar em tempos diversos de sua conturbada história. Em todo caso, a Batthyaneum, fundada em 1792, ostenta uma realidade bibliográfica e documental digna de nota: mais de 71.500 livros (entre manuscritos, mais de 600 incunábulos, além de raridades impressas após 1500). Desde 1961 ela é filiada à Biblioteca Nacional da Romênia.
Sobre seu patrono, Ignatius Saletius, conde de Batthyàn, algumas palavras:
Iniciou os estudos no Colégio Piarista de Pest para logo em seguida frequentar diversos outros centros europeus: Universidade dos Jesuítas Trnovo/Nagyszombat, no Seminário de Esztergom e na Universidade dos Jesuítas de Graz.
Ordenou-se em Roma, onde cumpriu os estudos no Collegium Germanicum et Hungaricum, em 1763. Daí em diante, seguiu uma carreira político-religiosa meteórica nos tempos do Imperador José II (1765-1790). Vivendo sob os ventos revolucionários que abalaram o Velho Mundo e as casas reais de oeste a leste, o então bispo da Transilvânia se envolveu em pelo menos três questões espinhosas que tocavam os interesses da Áustria, da Hungria: defendeu, em 1781, o polêmico Edito de Tolerância, que observava o exercício da fé de religiões não católicas; desempenhou participação importante na defesa dos padres católicos durante as revoltas camponesas de 1785-1785 na Transilvânia; foi protagonista do movimento de reforma do ensino, imposta pelo Estado, em 1776, após a expulsão dos jesuítas, por meio da Ratio Educationis.
Por esse breve resumo não é difícil imaginar a Batthyaneum como fruto dos anseios e contradições de um nobre religioso, partidário da Aufklärung. A própria biblioteca se instalara no contexto de dissolução das ordens religiosas, vindo a ocupar a igreja do convento dos Trinitários, com a finalidade de ali se instalar uma biblioteca pública e uma academia nos moldes clássicos, tão em voga naqueles tempos. O resultado não poderia ser mais eloquente. A fachada discreta da igreja, em contraste com uma Praça Forte de dimensões colossais, dissimula um projeto sofisticado que ocupa toda a porção superior da nave do edifício, donde observamos, estupefatos, dois andares repletos de livros, que preenchem belas estantes decoradas com alegorias greco-latinas.
Vale notar que a biblioteca, ela mesma, do ponto de vista espacial, conservou-se praticamente sem modificações, desde o início do século XIX. O quadro sistemático de classificação e os livros não se moveram, as prateleiras pintadas de cinza se alinham desde sempre ao longo da sala, da mesma forma que se tem acesso a um segundo nível sob a forma de um mezanino.
Difícil descrever o acervo bibliográfico desse templo impetuoso. Uma tarde foi muito pouco para observar em detalhe os livros selecionados pela bibliotecária diligente que nos acolheu. Ao todo oito manuscritos sobre pergaminho, três raridades impressas na era pós-Gutenberg, ex-libris de notáveis e outros objetos não menos impressionantes, dentre eles, tabuletas com escritura cuneiforme gravadas em terracota, placas impressas sobre vidro do célebre Códex Aureus e algumas peças de cavalaria datadas dos séculos XVI e XVII. Não houve oportunidade para se conhecer os documentos conservados neste acervo, na maior parte reveladores da vida e obra de seu patrono.

Para saber mais: http://www.bibnat.ro/Codex-Aureus-s109-expo1-ro.htm


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