A nova tradução dos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, que acaba de ser publicada pela Ateliê Editorial em parceria com a editora Mnéma, vem contar a história dos evangelhos e dar provas de que fé e inteligência podem caminhar juntas.
A nova edição dos Evangelhos foi publicada em versão bilíngue (grego e português). Trabalho primoroso e sofisticadíssimo na sua sobriedade e na forma responsável e criteriosa com que os textos do Evangelho são tratados. Atelier e Mnéma não são as primeiras editoras não religiosas que se dedicaram a publicar os textos sagrados. Na verdade, é preciso considerar a importância das palavras e dos ensinamentos de Cristo, registrados por esses quatro evangelistas, não apenas para a formação religiosa da humanidade, mas também como alimento espiritual e literário.
Quem fala em cristofobia se esquece de que o mundo laico jamais ignorou suas raízes. Provam-no os estudos sobre os Evangelhos, realizados por paleógrafos, filólogos e exegetas, os quais se fortaleceram após as descobertas de novos manuscritos, em papiro e em pergaminho desde o final do século XVIII. Como lembra o tradutor, Marcelo Musa Cavallari, na excelente apresentação que faz ao volume:
O Evangelho é um texto sagrado. Em sua mais básica significação, “sagrado”, ou “santo”, é aquilo que foi “separado” do comum da vida. Aquilo em que não se toca, o lugar em que não se entra, aquilo que não se diz a não ser nas condições corretas, sob pena de sofrer sanções, outra palavra da mesma raiz etimológica e campo semântico de “santo” e “sagrado”.O texto sagrado é aquele que tem um status diferente de todos os outros: uma “fala” separada das demais. Por isso a tradução do Evangelho foi, por muito tempo, uma empreitada raríssima e de enorme impacto”. (p. 46)
Ao resgatar a história das traduções do Evangelho e da crítica textual que lhe permitiu identificar a versão grega sobre o qual ele se deteve, Marcelo Musa Cavallari se mostra muito convicto de suas razões e motivações. Em primeiro lugar, ele afirma ter traduzido o Evangelho a partir de uma relação muito pessoal com o texto. E porque ele quis “fazer soar aos ouvidos do leitor da língua portuguesa as mesmas ressonâncias e ecos de significado que o leitor de grego experimenta diante do texto original”. Finalmente, porque se lê pouco o Evangelho – dirá o tradutor – “lê-se pouco o Evangelho como literatura que se realiza no ato da leitura”. Porque como palavra humana, como literatura ela não é menos palavra de Deus. “É mais”.
Livro imperdível!
Quem fala em cristofobia se esquece de que o mundo laico jamais ignorou suas raízes. Provam-no os estudos sobre os Evangelhos, realizados por paleógrafos, filólogos e exegetas, os quais se fortaleceram após as descobertas de novos manuscritos, em papiro e em pergaminho desde o final do século XVIII. Como lembra o tradutor, Marcelo Musa Cavallari, na excelente apresentação que faz ao volume:
O Evangelho é um texto sagrado. Em sua mais básica significação, “sagrado”, ou “santo”, é aquilo que foi “separado” do comum da vida. Aquilo em que não se toca, o lugar em que não se entra, aquilo que não se diz a não ser nas condições corretas, sob pena de sofrer sanções, outra palavra da mesma raiz etimológica e campo semântico de “santo” e “sagrado”.O texto sagrado é aquele que tem um status diferente de todos os outros: uma “fala” separada das demais. Por isso a tradução do Evangelho foi, por muito tempo, uma empreitada raríssima e de enorme impacto”. (p. 46)
Ao resgatar a história das traduções do Evangelho e da crítica textual que lhe permitiu identificar a versão grega sobre o qual ele se deteve, Marcelo Musa Cavallari se mostra muito convicto de suas razões e motivações. Em primeiro lugar, ele afirma ter traduzido o Evangelho a partir de uma relação muito pessoal com o texto. E porque ele quis “fazer soar aos ouvidos do leitor da língua portuguesa as mesmas ressonâncias e ecos de significado que o leitor de grego experimenta diante do texto original”. Finalmente, porque se lê pouco o Evangelho – dirá o tradutor – “lê-se pouco o Evangelho como literatura que se realiza no ato da leitura”. Porque como palavra humana, como literatura ela não é menos palavra de Deus. “É mais”.
Livro imperdível!
Prezada Marisa:
ResponderExcluirTão logo fiquei sabendo desse lançamento, comprei o livro. Sempre me interessei pelo tema. Há algum tempo, comprei o 'Diário Íntimo' de Amiel. Nele, há um registro (19/03/1868),página 241, que muito me tocou, mas cujo último parágrafo contém uma expressão em grego, que o tradutor não teve a gentileza de dar a tradução em uma nota de rodapé. Entrei em contato com a editora(É Realizações) solicitando que alguém entre o Conselho editorial pudesse me dar o significado. Nunca obtive resposta. Apelei então a um ou dois amigos que talvez me pudessem ajudar, inclusive a um meu antigo professor que eu sabia dominar o grego. Sem sucesso... Transcrevo o tal parágrafo: "Conclusão: deve-se ter fé na verdade, e julgar um dever mostrar essa fé por meio da ação. É preciso procurar o verdadeiro e distribuí-lo. É preciso amar os homens e servi-los, sem esperança de gratidão. Em vez de àpékon kai àpékon, convém dizer: abre-te e oferece-te." Inicialmente, imaginei que kai seria um verbo. Procurei em vários dicionários online por essas palavras, sem sucesso... O livro agora em questão me mostrou que kai é um conectivo (e). Naturalmente, a primeira ideia, quando li essa expressão, foi remetê-la à Bíblia, mais precisamente ao Novo Testamento. Penso que ela haverá de aparecer em algum momento da leitura, e minha dúvida será sanada. A lógica nos diz, baseada no texto, que é uma expressão contrária a 'abre-te e oferece-te.'
Será 'olho por olho' ou' dente por dente'?
Conto com sua atenção e ajuda.
Grato.
Henrique Chaudon.