Euclides da Cunha Redescoberto
Jornal Folha de S. Paulo publica com exclusividade matéria de LIVRO n.5.
Trata-se de inéditos de Machado de Assis e de Euclides da Cunha recém-descobertos pelos pesquisadores Leopoldo Bernucci e Felipe Rissato
Para saber mais sobre Livro n.5, leia nosso:
EDITORIAL
livro n.5 surge após uma avalanche de mudanças. O
formato é o mesmo. O conteúdo não se alterou, pois o livro segue como
protagonista em nossa publicação. O que mudou? Tudo e nada. A aura da revista
não é mais a mesma. Aquele ambiente de entusiasmo, que outrora atraíra para
suas páginas tantos adeptos, talvez não exista mais. A universidade, a cidade,
o país, tudo mudou. Porém, nada se transformou, como sói acontecer.
O dossiê tipografias projeta luz sobre as
artes do livro. De modo particular, o que se coloca em tela é a escrita, ou as
escritas impressas desde William Morris até as escritas menos sutis, baseadas
não apenas no tipo, mas na composição e no formato, tal como se apresentam hoje
os chamados livros de mesa, ou coffee
table books. tipografias reúne
ainda artigos sobre as fontes caligráficas de Hermann Zapf, os desenhos de
letras de Edgar Koetz, as ilustrações de capas da Fondo de Cultura Económica e
um estudo concentrado nas capas da coleção Biblioteca Pedagógica Brasileira
Série II, da CEN. Dentre as muitas aproximações que esse panorama deveras amplo
das escritas do livro propõe, parece evidente a tensão entre arte, técnica e
tecnologia em cada contribuição, desde o ato de resgatar o vínculo da
tipografia com suas origens, seguindo a proposta da Kelmscott Press, até o ato
individual e solitário de burilar as letras, desafiando os recursos da escrita
mecânica e, quiçá, digital.
leituras prolonga um
diálogo rico e dinâmico sobre os produtores de ideias e de livros, tal como ele
havia se iniciado em uma jornada memorável, promovida pelo nele, dedicada às figuras do Publisher? Editor?, em março de 2015. As
iniciativas de publicações partiram de alguns convidados que compuseram as
mesas de debate, mas também do público que encontrou na livro um fórum para a
exposição e o debate de suas ideias. Desse quadro, o que se extrai é um
panorama bastante abrangente de produtores latino-americanos que concorreram
para a exibição de livros nas celebradas exposições universais, mas também nas
vitrines de livrarias e nas bibliotecas de cada dia. Nessa “conjunção de
histórias”, é possível observar a interseção de uma série de produtores do
livro, cujas marcas vão sendo deixadas no próprio objeto. Donde a leitura
refinada dos textos, dos paratextos e daquilo que ficou relegado às margens dos
originais, como se vê nos estudos sobre Mário Graciotti, José Olympio e as
edições de Guimarães Rosa e, por fim, a figura do autor-revisor em Graciliano
Ramos. A temática dos produtores será desenvolvida na seção debates, na qual editores em atividade
serão convidados a refletir sobre seu métier.
No artigo de
abertura de leituras, Jerusa Pires
Ferreira rememora os caminhos do semioticista V. V. Ivanov, através de uma
viagem às bibliotecas da Rússia. A temática se situa nos umbrais da produção e
da recepção do livro, o que foge um pouco do tom dominante da seção. Mas quem
discordará que a mudança do tom não cria uma nuança importante entre o que se
fixa no papel e o que se dispersa na memória do mundo e dos homens? Eis uma
possível temática para novas reflexões.
A arte de Luiz Fernando Machado ilumina as páginas de Livro n. 5 |
Dois outros
produtores, cujas conversas se iniciaram em nossas jornadas, figuram na seção memória. J. Guinsburg foi o homenageado
do encontro Publisher? Editor?, amante
dos livros que se tornou um dos grandes expoentes da edição universitária no
Brasil. E que não se tome o termo na acepção restritíssima que o sistema
universitário tenta lhe impor. As edições da Perspectiva ampliaram os
horizontes dos leitores com traduções de títulos essenciais no campo científico
– em um mercado que investia e ainda investe muito pouco nesse setor – e seus
ensaios inovadores, fruto dos contatos do editor com figuras de vanguarda da
intelectualidade brasileira. Aliás, cumpre assinalar que o próprio J. Guinsburg
constitui a fina flor da vanguarda paulista, senão, brasileira, dada a
abrangência de seu trabalho. Tão avant
garde quanto outro homenageado da seção. Nesse ponto, a revista promove um desses encontros
raros, em que a amizade e os livros conspiram a nosso favor: Briquet de Lemos rende
homenagem ao amigo bibliófilo Rubens Borba de Moraes, em artigo memorável, lido
durante a Jornada Brasiliana, Brasilianas,
promovida pelo nele em novembro de
2014.
almanack selecionou peças
curiosas do que há de melhor na seara brasileira. A primeira, de Mário de
Andrade, inicia uma série de pequenas publicações destinadas a resgatar os
vínculos do autor com os livros. A segunda apresenta uma faceta pouco conhecia
do “poetinha” Vinícius de Moraes, a saber, sua atuação como editor. Luís Pedro
Pio apresenta, ainda, no final da revista,
uma errata ao artigo de Isabel Travancas, publicado no número anterior. Os
editores agradecem ao bibliófilo, amigo dos livros, pela contribuição generosa,
desinteressada e incomum.
acervo e arquivo primam pela originalidade dos
conteúdos. Na primeira, João Carlos de Oliveira e Álvaro Costa de Matos apresentam
ao público brasileiro alguns aspectos da composição da Hemeroteca de Lisboa. Na
segunda, Felipe P. Rissato e Leopoldo Bernucci trazem novidades fresquinhas
sobre Machado de Assis e Euclides da Cunha. Sim, é possível (re)descobri-los!
Pesquisadores não podem se furtar ao trabalho de arquivo, do papel miúdo,
empoeirado e despedaçado ao qual se relegou uma soma incalculável de nossa
fortuna literária.
letra & arte, melhor do
que nunca, rende-se aos gregos, latinos e modernos. Carpe diem! É ler para crer!
A jornada termina
onde tudo começa: nas conversas de livrarias.
Voltemos ao Cambucy, ainda grafado com y, quando a cidade, menor em tamanho e,
talvez, mais urbana, era um convite à flânerie.
Quantas livrarias, quantas bibliotecas, quantos interlocutores! Quanta
inteligência! Do início ao fim, Carlos Guilherme Mota, esse grande historiador
e crítico do Brasil, faz mover sua pena através da memória da juventude e da
idade madura. Saltam aos olhos as recordações evocadas do mestre sobre seus
mestres, em um relato tocante e sincero que faz do livro esse instrumento privilegiado
de ligação entre os homens.
Encerrando uma
jornada difícil, os editores de livro n.5 buscaram, nessa edição,
ultrapassar as fronteiras da bibliofilia para reencontrar o sentido mais puro
do amor às letras e ao livre-pensamento. É claro que a viagem não para por
aqui. A próxima edição já está em andamento. Mas isto é já futurismo!
Plinio Martins Filho
e
Marisa Midori Deaecto
Os Editores
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