O Mercado Editorial e o Leitor Brasileiro
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Em 2015 o mercado livreiro registrou uma retração na ordem
de -3,27%, em relação ao movimento do ano anterior. Considerando a variação do
IPCA, isso significa um decréscimo real de (-) 12,63%. Os dados foram
publicados pela Fipe, com o apoio do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de
Livros) e da CBL (Câmara Brasileira do Livro).
A pesquisa abarca uma amostra significativa, que corresponde
a 70% das editoras brasileiras. Observou-se que o desempenho fraco do mercado
livreiro, em relação a 2014, puxou a produção e as vendas para baixo, na ordem
de -3,99%. Considerando que o preço médio do livro subiu 4,57%, conclui-se que
a retração é ainda maior, de -5,55%. Já as vendas para o governo não
apresentaram uma queda brusca, fixando-se em -0,86.
Embora seja inegável o encolhimento do setor neste último
período, o que se reflete na produção de livros em termos absolutos – em 2015, foram
produzidos 52.497 títulos (446.848.571 exemplares), entre novos e reedições,
contra 60.829 (501.371.513 exemplares) no ano anterior – este não foi,
definitivamente, o pior cenário apresentado na última década. Entre 2002 e 2004
a produção editorial se situava na casa dos 30 mil títulos (39.800, 35.590 e
34.858, respectivamente), tendo registrado um faturamento de 2.477.031.850
reais, em 2004. A curva produtiva segue ascendente durante toda a década e a
produção salta, a partir de 2008, para a casa dos 50 mil títulos. Em 2013, o
setor atinge seu ponto mais alto, ou seja, 62.235 títulos (ou 467.835.900
exemplares). Notemos que o número de exemplares é menor do que o computado para
2014.
Diante desse mar de números e para além da constatação óbvia
da crise no setor, cumpre perguntar: lê-se muito? Lê-se pouco? O que se lê? Como
avaliar a relação entre o mercado e os hábitos de leitura no Brasil?
Para além dos números, o leitor
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É difícil estabelecer, em tão poucas linhas, uma abordagem
qualitativa que leve em consideração o mercado e o perfil do leitor brasileiro.
Sob a pena de se ignorar variáveis fundamentais para a análise da temática,
tais como perfis socioeconômicos, faixa etária, grau de escolaridade e,
inclusive, as diferenças regionais do país, os dados divulgados pela Fipe não
podem ser lidos sem que se vislumbre o leitor virtual escondido atrás dos
números.
A tomar pelas informações da produção anual por temas,
excetuando os didáticos, pode-se dizer que o leitor predominante no Brasil é o
de livros religiosos, os quais detêm 16,24% dos exemplares impressos em 2015. Os
dados coincidem com a lista dos títulos mais lidos, segundo a apuração feita em
Retratos da Leitura no Brasil (4a.
edição, 2015). Do total de 2798 leitores declarados na pesquisa, 42% declararam
ler a Bíblia e outros 22% livros religiosos. Contos e romances seguem na
esteira com 22% das participações, cada um. Cumpre notar que a Bíblia e os
livros religiosos estão na dianteira desde a primeira edição da pesquisa, em
2007. Agora, com exceção do primeiro lugar, Augusto Cury, todos os demais tratam,
direta ou indiretamente, de religião: João Ferreira de Almeida (tradutor da
Bíblia protestante para o português, Zibia Gasparetto (espiritismo), Padre
Marcelo Rossi (igreja católica), Cristiane e Renato Cardoso (igreja universal).
Nos dois documentos descortina-se uma triste constatação: no
Brasil ainda se lê muito pouco! Por toda a pesquisa fica evidente o
contorcionismo realizado para se delinear o perfil do leitor brasileiro. É
sintomático que em um universo de 5012 entrevistados, distribuídos por todas as
regiões do país, na faixa de 5 a 70 anos, entre estudantes e não estudantes, considerando
leitor aquele que visitou um livro, ou parte dele, no intervalo de três meses,
há, ainda, 44% dos entrevistados que se declararam não leitores! Inútil, nesse
caso, repisar sobre os números tímidos de nosso mercado, sobretudo quando
postos lado a lado com a produção dos países mais desenvolvidos.
Por um ciclo virtuoso da economia do livro
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Além disso, o leitor brasileiro é tradicional e o que
predomina, nesse campo, é a religião. Ou as leituras motivadas pela escola, inclusive
os livros indicados nos vestibulares, determinantes nas reedições. No outro
extremo, o leitor se vale da mídia para construir seu campo de interesse. Nesse
caso, é inegável o poder da televisão, do cinema e da internet na construção
dos best sellers de ocasião.
Trocando em miúdos, os números e os leitores revelam um
quadro de difícil superação para além das políticas públicas, que alavancaram o
setor na última década, mas não criaram um ciclo virtuoso da economia do livro.
É verdade que o fruto maduro apenas se colhe no espaço de uma geração. Todavia,
algumas medidas inovadoras poderiam colocar editor e leitor em novo compasso. Talvez
a existência de canais mais efetivos de acesso ao livro, como as vendas de
porta em porta e as igrejas, possa se tornar o novo foco de políticas futuras,
no sentido de privilegiar mais os pontos de venda do que os setores de
produção. Mas este é um tema para novo artigo.
Fontes:
Produção e vendas do setor editorial brasileiro, ano base 2015.
http://www.snel.org.br/wp-content/uploads/2016/06/Apresentacao-pesquisa-2015-Imprensa_OK.pdf
Retratos da Leitura no Brasil, 4a edição, março de 2016.
http://www.snel.org.br/wp-content/uploads/2016/06/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_4.pdf
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