Das Bibliotecas do Povo às Public Library
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Biblioteca do Congresso. Fonte: Wikipedia |
As bibliotecas do
povo se avolumaram com maior ímpeto no espaço francês, entre 1792 e 1794,
quando as coleções de religiosos e de nobres se tornaram um bem público por
força e vontade populares. Durante o Império muitas destas instituições se
converteram em importantes bibliotecas municipais. Sabe-se, aliás, que Napoleão
Bonaparte era dado aos prazeres da leitura, tendo ele mesmo criado uma rede de
bibliotecas para uso pessoal.
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Festa do Livro - Fête de l'Humanité, 2010 Arquivo da Autora |
Diferente foi o
modelo praticado nos Estados Unidos, também ele fruto do Iluminismo. Nesse
caso, a public library ganhou força após a Independência, como uma
estratégia de Estado que buscava promover a instalação de uma rede de
bibliotecas por todo o território, desde os principais centros aos vilarejos
mais longínquos, com a finalidade de padronizar o uso da língua inglesa e, por
conseguinte, unificar a nação. Benjamin Franklin foi seu maior entusiasta.
Afinal, os
intelectuais ilustrados eram amigos das bibliotecas (e dos livros!). Gabinetes
ou clubs literários já eram
conhecidos no Velho Mundo desde as primeiras décadas do Setecentos. Mas, agora,
tratava-se de pensar essas instituições como o produto de uma nova civilização
que nascia após as revoluções d’além-mar e os movimentos emancipacionistas que
pululavam por estas partes do continente. Tratava-se, enfim, de dar um passo
adiante rumo ao progresso.
Ocorre que o Brasil
demorou a se tornar uma república. Suas elites, no entanto, esforçaram-se para
acompanhar as tendências observadas alhures. Às Bibliotecas do Povo,
preferiram, evidentemente, o eufemismo norte-americano: Biblioteca Pública –
mas não para todos.
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Biblioteca da Faculdade de Direito do Largo S. Francisco, 1890 São Paulo - Brasil |
Assim foi
inaugurada, em 1825, a primeira Biblioteca Pública de São Paulo. Antes, foram
oficialmente abertas as bibliotecas públicas da Bahia, em 1811, e a do Rio de
Janeiro, em 1814. A primeira foi organizada com recursos particulares, nos moldes
dos gabinetes de leitura. No segundo caso, o acervo viera de Lisboa, como parte
de todo o aparato trazido pela família real durante sua transferência para o
Brasil, em 1808. Temos notícias de outra biblioteca fundada na cidade de São
João Del Rei, em 1827, por iniciativa de Batista Caetano de Almeida, que tornou
pública sua valiosa coleção particular.
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Fonte: Wikipedia |
De modo geral,
estas primeiras bibliotecas, denominadas públicas por força da moda,
representaram uma curiosa simbiose entre a tradição e a inovação. Entre livros religiosos e de antigas leis (já caducadas), resguardaram-se nas estantes edições
contemporâneas, não raro de cariz sedicioso, via de regra, filosofia e
pornografia. Eram, finalmente, as Luzes que se descortinavam nos desvãos daqueles
corredores empoeirados para o deleite de uma fina camada de leitores naquele
Brasil escravista, analfabeto, patriarcal.
Publicado em versão completa em www.revistabrasileiros.com.br
Também em papel!
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