Uma universidade entre livros
A história do livro,
como toda a História, vale dizer, não é infensa a certas regularidades, o que pode
torná-la previsível, mas jamais tediosa. São as regularidades, aliás, que nos
permitem encontrar um padrão, ou padrões analíticos, quer pelas semelhanças,
quer pelas diferenças observadas entre um processo e outro.
Assim a história das
cidades no mundo ocidental. Onde quer que nos encontremos, em uma pequena
cidade encravada nas Minas Gerais, na suntuosa Praga, centro cultural e
político da Bohemia, ou na bela Eger, ao norte da Hungria, algumas referências
arquitetônicas e estilísticas, que remontam ao período de maior riqueza desses
núcleos urbanos, contam muito sobre a circulação e recepção de certos padrões
estéticos. No entanto, a simples constatação de que ali predominam o Barroco e
o Rococó nos motivos arquitetônicos e nos afrescos de seus principais edifícios
não implica em um grande avanço no conhecimento dessas sociedades. Afinal,
embora o historiador reconheça as regularidades, o que lhe interessa, no fundo,
não são as semelhanças, mas os elementos particulares que individualizam estes
lugares e tornam suas sociedades um interessante tópico de estudo e de
investigação.
Vista do Centro, da Torre Astronômica da Universidade de Eger. |
Introdução verdadeiramente
Barroca para tratar de Eger. No limite da cidade, ao norte, um minarete e uma
fortaleza testemunham os tempos da ocupação turca. Pois foi justamente após a
reconquista do território pelos Habsburgos (1686) que a cidade se renovou e não
demorou a se tornar um bastião da Contra-Reforma. Em 1763, o Bispo Conde Károly
Esterházy (1725-1799) investe na construção de um templo suntuoso destinado aos
estudos superiores e de uma belíssima biblioteca, concluída trinta anos mais
tarde.
Vista geral da Biblioteca Eszterhazyana |
Detalhe do afresco, uma representação do Concílio de Trento (1545-1563) |
Julgamento dos livros defesos. |
Coleção monumental, desde o início, com seus 20.000 volumes, dentre os
quais alguns teoricamente proibidos. Afinal, embora de vocação religiosa, senão
católica, nasce sob o signo das Luzes e da Tolerância. O afresco que recobre o
teto da biblioteca, em toda a sua extensão, documenta bem um capítulo
importante na história da Igreja e dos livros, a saber, o Concílio de Trento
(1545-1563), donde a lembrança, num dos cantos da sala, de uma cena do julgamento e queima de títulos defesos.
Como bem observa
Frédéric Barbier, “a Biblioteca Eszterhazyana de Eger se caracteriza pela
modernidade nos domínios científicos, e mesmo pela presença de um certo número
de títulos teoricamente proibidos, por exemplo, a Bíblia de Lutero, na edição de Ratisbonne, de 1756” (http://histoire-du-livre.blogspot.de/2010/04/en-hongrie-3-reforme-catholique-et.html).
Passados mais de 200
anos de história, o projeto de se constituir na cidade um centro de
conhecimento parece consolidado. O imponente edifício abriga a Universidade de
Eger, a qual atrai jovens estudantes da região e professores de todo o país. A
antiga biblioteca, com sua coleção bastante aumentada, cerca de 130.000
volumes, convive com outras coleções menores, porém, não menos significativas,
distribuídas em diferentes seções, destinadas a prover alunos e mestres.
Não posso deixar de
agradecer o Prof. Dr. István Monok, sábio amigo que me proporcionou uma inesquecível
estada nesta jóia barroca que se esconde por detrás dos montes Matra. köszönöm
Emocionante a postagem. Mal dá para acreditar que é uma biblioteca,mais remete a um templo religioso... pensando bem.. templo do saber, não é mesmo?
ResponderExcluirE não são templos do saber estas bibliotecas? bjs Marisa
ExcluirMarisa, como não viajar com seu relato? Que beleza! O blog segue cada vez melhor!
ResponderExcluirObrigada, sigo investigando e colhendo ideias para nosso futuro encontro no Brasil...
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