Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

DiverCidades – Eger : Tesouro Barroco


Uma universidade entre livros

A história do livro, como toda a História, vale dizer, não é infensa a certas regularidades, o que pode torná-la previsível, mas jamais tediosa. São as regularidades, aliás, que nos permitem encontrar um padrão, ou padrões analíticos, quer pelas semelhanças, quer pelas diferenças observadas entre um processo e outro.
Assim a história das cidades no mundo ocidental. Onde quer que nos encontremos, em uma pequena cidade encravada nas Minas Gerais, na suntuosa Praga, centro cultural e político da Bohemia, ou na bela Eger, ao norte da Hungria, algumas referências arquitetônicas e estilísticas, que remontam ao período de maior riqueza desses núcleos urbanos, contam muito sobre a circulação e recepção de certos padrões estéticos. No entanto, a simples constatação de que ali predominam o Barroco e o Rococó nos motivos arquitetônicos e nos afrescos de seus principais edifícios não implica em um grande avanço no conhecimento dessas sociedades. Afinal, embora o historiador reconheça as regularidades, o que lhe interessa, no fundo, não são as semelhanças, mas os elementos particulares que individualizam estes lugares e tornam suas sociedades um interessante tópico de estudo e de investigação.
Vista do Centro, da Torre Astronômica da Universidade de Eger.
Introdução verdadeiramente Barroca para tratar de Eger. No limite da cidade, ao norte, um minarete e uma fortaleza testemunham os tempos da ocupação turca. Pois foi justamente após a reconquista do território pelos Habsburgos (1686) que a cidade se renovou e não demorou a se tornar um bastião da Contra-Reforma. Em 1763, o Bispo Conde Károly Esterházy (1725-1799) investe na construção de um templo suntuoso destinado aos estudos superiores e de uma belíssima biblioteca, concluída trinta anos mais tarde. 
Vista geral da Biblioteca Eszterhazyana

Detalhe do afresco, uma representação do Concílio de Trento (1545-1563)

Julgamento dos livros defesos.
Coleção monumental, desde o início, com seus 20.000 volumes, dentre os quais alguns teoricamente proibidos. Afinal, embora de vocação religiosa, senão católica, nasce sob o signo das Luzes e da Tolerância. O afresco que recobre o teto da biblioteca, em toda a sua extensão, documenta bem um capítulo importante na história da Igreja e dos livros, a saber, o Concílio de Trento (1545-1563), donde a lembrança, num dos cantos da sala, de uma cena do julgamento e queima de títulos defesos.
Como bem observa Frédéric Barbier, “a Biblioteca Eszterhazyana de Eger se caracteriza pela modernidade nos domínios científicos, e mesmo pela presença de um certo número de títulos teoricamente proibidos, por exemplo, a Bíblia de Lutero, na edição de Ratisbonne, de 1756” (http://histoire-du-livre.blogspot.de/2010/04/en-hongrie-3-reforme-catholique-et.html).
Passados mais de 200 anos de história, o projeto de se constituir na cidade um centro de conhecimento parece consolidado. O imponente edifício abriga a Universidade de Eger, a qual atrai jovens estudantes da região e professores de todo o país. A antiga biblioteca, com sua coleção bastante aumentada, cerca de 130.000 volumes, convive com outras coleções menores, porém, não menos significativas, distribuídas em diferentes seções, destinadas a prover alunos e mestres.
Não posso deixar de agradecer o Prof. Dr. István Monok, sábio amigo que me proporcionou uma inesquecível estada nesta jóia barroca que se esconde por detrás dos montes Matra. köszönöm

4 comentários:

  1. Emocionante a postagem. Mal dá para acreditar que é uma biblioteca,mais remete a um templo religioso... pensando bem.. templo do saber, não é mesmo?

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    1. E não são templos do saber estas bibliotecas? bjs Marisa

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  2. Marisa, como não viajar com seu relato? Que beleza! O blog segue cada vez melhor!

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    1. Obrigada, sigo investigando e colhendo ideias para nosso futuro encontro no Brasil...

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